Capital de giro: como calcular e gerenciar a reserva do seu negócio

Capital de giro: como calcular e gerenciar a reserva do seu negócio

O capital de giro é a reserva que financia as atividades do seu negócio e garante o pagamento das despesas em dia.

Com o valor certo em caixa, sua empresa tem “giro” suficiente para manter seu funcionamento e cobrir os custos até a entrada das receitas.  

Afinal, é normal passar por momentos em que os gastos são mais altos do que os ganhos, desde que você tenha dinheiro para segurar as contas até receber pelo que vendeu.

O que é capital de giro

Capital de giro é a reserva de dinheiro que a empresa deve manter em caixa para garantir seu funcionamento e cobrir todas as despesas.

No caso, o termo “giro” se refere ao ciclo financeiro, que representa toda a movimentação de capital do negócio —  desde o pagamento dos fornecedores até o recebimento das vendas, por exemplo.

Durante esse ciclo, há recursos que entram (ativos) e outros que saem (passivos) do caixa da empresa, mas é normal ter mais despesas do que fontes de receita em alguns momentos. 

Por isso é fundamental ter capital de giro suficiente para bancar as contas do negócio nesse intervalo entre os pagamentos e recebimentos, mantendo o equilíbrio entre ativos e passivos. 

Quanto maior for o prazo para receber pelas vendas, maior será a demanda por dinheiro em caixa, já que a empresa precisa honrar compromissos como comprar insumos e mercadorias, pagar impostos e salários, consertar equipamentos, etc.

 

Necessidade de capital de giro

O capital de giro é basicamente o dinheiro que faz o negócio “girar”, ou seja, a base financeira para sustentar qualquer empresa e financiar suas atividades.

Por isso, é tão importante dispor de capital inicial, que não é aplicado apenas na estrutura e pessoal, mas também na reserva de caixa necessária para começar a operar. 

Afinal, a lógica do empreendedorismo é investir primeiro para ter o retorno em forma de lucro depois, e isso só é possível quando há capital disponível. 

Além de cobrir as despesas e dívidas do negócio enquanto não entra o dinheiro das vendas, o capital de giro também viabiliza a venda a prazo.

Com a reserva suficiente em caixa, a empresa pode sustentar um déficit temporário de recursos e, dessa forma, ampliar as opções de pagamento para os clientes com o objetivo de aumentar as vendas.

Do mesmo modo, um comércio pode aproveitar a sazonalidade para antecipar a compra de um produto e compensar o investimento com as futuras vendas.

Essa dinâmica justifica os resultados negativos em um primeiro momento, quando se gasta mais do que recebe e antes de receber. 

É por isso que, se não há capital de giro, a continuidade das operações é comprometida ou mesmo interrompida — e a empresa deixa de aproveitar oportunidades comerciais por falta de saldo em caixa. 

Além disso, do ponto de vista gerencial, o cálculo do capital de giro é essencial para manter as reservas em equilíbrio e garantir a lucratividade da empresa.

 

Capital de giro x capital de giro líquido

Se o conceito de capital de giro já ficou claro para você, o próximo passo é entender o que é capital de giro líquido (CGL).

A semelhança é que a versão líquida do indicador também se baseia no ativo circulante e passivo circulante do negócio, mas vai um pouco além.

Primeiro, vamos deixar claro o que significam esses conceitos:

  • Ativo circulante: é todo bem ou capital que a empresa já tem ou deve receber em curto prazo (no máximo um ano), como dinheiro em caixa e na conta bancária, aplicações financeiras, duplicatas, contas a receber e itens em estoque
  • Passivo circulante: é toda dívida ou obrigação que a empresa deve pagar em até um ano, como contas a pagar, boletos de fornecedores, folha de pagamento, impostos, empréstimos, etc.

Agora sim, podemos entender a diferença entre os dois indicadores: enquanto o capital de giro se restringe às movimentações operacionais do negócio, o capital de giro líquido considera todos os ativos e passivos de curto prazo, sendo utilizado, na prática, como um indicador de liquidez.

Por exemplo, o cálculo padrão do capital de giro não inclui ativos como aplicações financeiras e saldo atual em caixa, tampouco empréstimos tomados pela empresa.

Já o CGL leva em conta todas as entradas e saídas, e não somente aquelas diretamente relacionadas às operações, como contas a pagar e a receber. 

Por isso, ele também é chamado de capital circulante líquido e corresponde ao valor que a empresa precisa para honrar todos os seus compromissos financeiros em curto prazo. 

Logo, o capital de giro líquido é o indicador mais seguro para calcular se o negócio terá como arcar com suas despesas imediatas.

Como calcular a necessidade de capital de giro

Como os gastos sempre vêm antes dos ganhos, todo empreendedor precisa calcular a necessidade de capital de giro para saber exatamente quanto precisa manter em caixa. 

Essa demanda varia conforme o ciclo de caixa da empresa, e quanto mais longo for o prazo de recebimento, maior será o valor necessário. 

Por isso, o cálculo do capital de giro deve fazer parte da rotina do negócio, já que é preciso agir rapidamente quando é detectada a insuficiência de recursos.

Tudo começa em levantar e separar os custos fixos — aqueles que, se não forem cobertos, impossibilitam a própria existência do negócio —, tais como folha de pagamento, custo de veículos, aluguéis e contas de água, luz e internet.

Somadas essas despesas, é hora de saber o quanto será preciso vender em produtos ou executar em serviços para que elas sejam quitadas e permitam a geração de lucro — para isso, você pode usar a margem de contribuição. 

Lembrando que quem trabalha com estoques, precisa incluir esse ativo na conta, e, se for calcular o CGL, deverá considerar também empréstimos, aplicações, impostos a recuperar, etc. 

De modo geral, o valor da reserva corresponde a até 60% do total de ativos, e basta usar a fórmula abaixo para calcular esse montante:

Capital de Giro Líquido (CGL) = Ativos Circulantes (AC) - Passivos Circulantes (PC)

Por exemplo, vamos supor que a empresa tenha o seguinte cenário no fim do mês:

  • Ativos circulantes: R$ 500,00 em caixa, R$ 2.600 no banco, R$ 20.000,00 em contas a receber das vendas e R$ 4.000,00 em estoque 
  • Passivos circulantes: R$ 4.500,00 para pagar aos fornecedores, R$ 600 de aluguel, R$ 300,00 de contas de consumo, R$ 500,00 de parcela de empréstimo, R$ 300,00 em impostos e R$ 6.000,00 em folha de pagamento.

Nesse caso, o cálculo ficaria assim:

CGL = R$ 27.100,00 - R$ 12.200,00 

CGL = R$ 14.900,00

Logo, a reserva necessária em caixa para garantir os compromissos da empresa mensalmente é de R$ 14.900,00. 

Ou seja: esse é o dinheiro que precisa sobrar todo mês para manter as operações com folga e financiar as atividades do negócio. 

Como vimos, o CGL considera todos os ativos e passivos de curto prazo, mas também é possível utilizar a fórmula simplificada com um enfoque no ciclo operacional financeiro da empresa , que inclui apenas as contas a receber, estoque e contas a pagar:

Capital de Giro (CG) = Valor das Contas a Receber (VCR) + Valor em Estoque (VE) - Valor das Contas a Pagar (VCP)

No exemplo acima, seriam consideradas apenas as contas a receber (R$ 20.000,00), valor em estoque (R$ 4.000,00) e contas a pagar em geral (R$ 4.500,00 para os fornecedores, R$ 600,00 de aluguel, R$ 300,00 de contas de consumo, R$ 6.000,00 da folha de pagamento e R$ 300,00 de impostos).

Logo, o cálculo ficaria:

CG = R$ 20.000,00 + R$ 4.000,00 - (R$ 4.500,00 + R$ 600,00 + R$ 300,00 + R$ 6.000,00 + R$ 300,00)

CG = R$ 24.000,00 - R$ 11.700,00

CG = R$ 12.300,00

Como você pode ver, o cálculo simplificado mostra um resultado um pouco abaixo do CGL, mas ainda compatível com a necessidade média de capital de giro mensal do negócio.

Como gerenciar o capital de giro

A gestão do capital de giro é um ponto crítico do negócio, e tem três principais objetivos:

  • Manter as reservas em equilíbrio para sustentar as operações do negócio 
  • Prevenir a inadimplência 
  • Evitar a necessidade de recorrer a capital externo (Ex: empréstimos de bancos).

Para alcançá-los, é preciso gerenciar o dinheiro de forma cuidadosa e se atentar a um fato importante: há períodos em que se vende mais, e outros em que as vendas caem.

Imagine que a empresa do exemplo anterior conseguiu manter a reserva de R$ 12.600,00 durante 6 meses, mas que, no sétimo mês, as vendas caíram 30%.

Nesse caso, para que a meta de capital de giro seja mantida, o gestor terá que tomar medidas de contenção de gastos para evitar a perda das reservas. 

Ou seja: não basta calcular o quanto precisa sobrar todo mês. Também é preciso reavaliar as receitas e despesas continuamente para que os ajustes sejam feitos e a margem necessária para o giro não caia. 

E, como você deve ter concluído, a principal estratégia para manter as reservas da empresa é a redução de custos, que pode ser alcançada com as seguintes ações:

  • Renegociar juros cobrados por empréstimos junto a instituições financeiras
  • Controlar a inadimplência e ter um bom processo de cobrança para garantir que as compras a prazo sejam pagas
  • Ajustar o recebimento de mercadorias com fornecedores de maneira que, ao receber os produtos, eles sejam vendidos rapidamente, evitando acúmulo em estoque
  • Revisar anualmente contratos com fornecedores, clientes e bancos para localizar pontos que podem ser renegociados e custos que podem ser reduzidos.

Além disso, é importante implementar estratégias de vendas para não deixar produtos parados no estoque e evitar o “represamento” dos ganhos. 

Para mais dicas de gerenciamento na prática, confira nossos artigos sobre gestão de capital de giro para pequenas empresas e administração de capital de giro.

Capital de giro e autofinanciamento

Como vimos, um dos principais objetivos da gestão de capital de giro é reduzir ao máximo a necessidade de capital de terceiros, evitando assim a cobrança de juros e o aumento de custo do capital.

Mas o cenário ideal é sempre o autofinanciamento, ou seja, a capacidade de aplicar apenas recursos próprios na operação a empresa.

Quando a situação aperta, o empreendedor costuma procurar linhas de crédito para financiar seu capital de giro, já que costumam ter taxas menores e condições especiais nos bancos.

Mesmo assim, esses empréstimos continuam sendo formas de endividamento que prejudicam a lucratividade do negócio.

Logo, é muito mais vantajoso conseguir se autofinanciar, pois você não precisa recorrer ao dinheiro de terceiros e pode reinvestir o que sobrar no negócio, em vez de ficar pagando juros e prestações. 

No mercado, existem startups que praticam o chamado bootstrapping, que significa lançar a empresa apenas com recursos próprios, sem depender do dinheiro de investidores e aceleradoras, como ocorre normalmente.

É claro que é um caminho mais difícil e o crescimento pode ser mais lento, mas vale a pena não ter que dividir os lucros quando o negócio dá certo. 

Então, se você tiver essa possibilidade, procure operar com capital próprio e construir um negócio autossustentável.


Publicado em: 01/01/1970 00:00:00
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